29 de abr. de 2012

Reticências


            Às vezes nos sentimos como a última pessoa existente no mundo. Sentimos, ou queremos sentir, como se nada houvesse em nossa volta, para que assim fosse mais fácil o recomeço de tudo aquilo que temos a intenção de deixar intacto em um passado que sempre estará presente de alguma forma em nossas cabeças, em nossas lembranças e esperanças.
            As alianças firmadas que outrora eram a razão de todos os movimentos e sorrisos, para onde foram nos momentos em que nos questionamos de que valem todas elas? Todas as conclusões batem à porta neste momento nos mostrando que estamos atrasados em ver que nada daquilo era real, ou pelo menos que nada daquilo sobreviveu.
            Penso que em outra dimensão deve haver vidas paralelas onde somos protagonistas de outra realidade e onde somos mais felizes de alguma forma. Um lugar onde nossas decisões nos levam a momentos de puro regozijo. Seria como a versão final deste rascunho que vamos escrevendo dia após dia, na tentativa de que em algum momento acertemos finalmente.
            Mas se este plano é apenas o rascunho, então ele nunca será bom, nunca será completo e nem com linhas certas. Ele possui borrões, rabiscos, rasuras, frases sem sentido algum e totalmente desconexas daquilo que pretendíamos escrever. Começam a surgir incertezas do que escrever e de como continuar, mas ainda assim continuamos o texto, mesmo sabendo que aquele velho papel roto será jogado fora depois de passado a limpo.
            Mas, mais uma vez, se este é somente um rascunho, qual então a intenção ou ao menos de que vale de fato deter todas as informações das quais somos detentores? Qual a intenção de formar tais alianças, se no fim de todo o rabisco quem vai definir o final, o que você não verá, será somente você? Sozinhos, da mesma forma como o iniciamos. Um final que você não verá e nem sentirá, pois este é apenas o esboço, e quem tem o direito de senti-lo de forma perfeita é seu outro “Eu”, que se aproveita de todas as correções em um plano paralelo e melhorado.
            Esperar que o tempo corrija aquilo que está imperfeito não é e nem nunca foi a decisão mais certa a se seguir, mas é a mais praticada por aqueles que se cansam de reescrever e reescrever as palavras de suas vidas. E assim, então, seguimos sem que nada seja definido, sem que nada possua uma resposta. Apenas palavras de remediação que ouvimos para que possamos continuar. Mas e se não quisermos mais continuar com as escrituras? Então o que fazer com as palavras ouvidas e escritas, e também com todo o tempo gasto na produção de tudo isto?
            Apenas deixar que o tempo encarregue-se de terminar por nós. Não com o melhor final, mas com o final que acomodados esperamos chegar, somente para poder verificar se pelo menos no mundo paralelo os acertos valeram os erros cometidos nesta tentativa humana desesperada de acertar. Se acertaremos? Não sei. Talvez um dia possamos sair de nosso outro mundo para dizer. Por enquanto, deixemos que as canetas percorram as linhas e nos digam qual caminho seguir. E acomodados esperamos pela melhor resposta...

5 de abr. de 2012

Mais uma de amor


            
             Sim, eu sofro por amor.
         Mas isto não me faz triste. Sofro por que sinto meu peito arder em chamas quando penso em você. É como se as lavas de todos os vulcões me cobrissem o corpo e me desmanchassem, me transformando em uma porção ínfima que escorre pelo mundo, mostrando que ali esteve.
         Arde com tanto calor que inflamam as veias e saltam e gritam por teus toques e resfriam-se em seguida na geleira do seu sentimento. Geleira que nunca será suficiente para apagar o brilho que reluz e emana do centro do meu coração. Luzes que se assemelham aos raios do sol de tão fortes e calorosas. Assim é meu amor por você.
         Sofro quando espero para vê-lo chegar e passar pela porta para me beijar ardentemente e juntos nos jogarmos em nosso deleite galáctico, rodeados de estrelas e luzes, mas que por vezes nos mal conduz, levando-nos a buracos negros que o sugam e o levam pra longe de mim. Tento segurar suas mãos para que não nos percamos, mas você as parece recolher para que eu não as alcance. E sofro novamente ao ver você se perder em uma via que não conseguirei mais localizá-lo. E assim, para onde irá todo o amor que tenho por você? Devo eu atirá-lo no mesmo caminho que tomou, na tentativa de que ele o alcance e que você o leve para sempre como seu companheiro? Ao menos meu amor estaria consigo!
         Sim, eu sofro por amor! Sofro por não poder amá-lo e por saber que é tanto amor que em mim já não cabe. Dedico-o parte a mim, mas ainda assim sobra tanto que chega a transbordar. E não vou, não, atirá-lo em sua direção como eu achava que deveria, afinal, ele pode não chegar até você e assim se perder, e, mais uma vez, eu sofrerei por amor. Sofrerei pelo amor que será jogado em vão.
         Sofro sim pelo amor que poderia dividir com você. E por mais que ele seja compartilhado com outros milhares hoje, me sobra tanto que a única pessoa que me vem à cabeça para recebê-lo não o pode fazer, ou não o quer... Já não importa mais.
         Sofro sim, pois a única coisa que sei fazer é amar. Amar é minha sina, é meu prazer e também meu algoz. É como ver nascer o sol em uma bela manhã de Outono e de repente sentir minhas retinas secarem de tão resplandecente momento. Assim eu amo, e assim é que sei amar.
         Se este amor for uma doença, que assim seja até os últimos raios que me iluminam o caminho, pois se amar é uma doença, então dela sofrerei e por ela sofrerei, até que em mim já não reste uma gota de amor para dedicar a você, Mundo. Meu Mundo.
         Sim, sofro. Sofro por amor por sofrer de amor. Mas assim não fosse, sofreria de tristeza por não poder amar. Afinal, como diz a canção: O que seria de mim sem ti, Amor?