Às vezes nos sentimos como a última pessoa existente no
mundo. Sentimos, ou queremos sentir, como se nada houvesse em nossa volta, para
que assim fosse mais fácil o recomeço de tudo aquilo que temos a intenção de
deixar intacto em um passado que sempre estará presente de alguma forma em
nossas cabeças, em nossas lembranças e esperanças.
As alianças firmadas que outrora eram a razão de todos os
movimentos e sorrisos, para onde foram nos momentos em que nos questionamos de
que valem todas elas? Todas as conclusões batem à porta neste momento nos
mostrando que estamos atrasados em ver que nada daquilo era real, ou pelo menos
que nada daquilo sobreviveu.
Penso que em outra dimensão deve haver vidas paralelas
onde somos protagonistas de outra realidade e onde somos mais felizes de alguma
forma. Um lugar onde nossas decisões nos levam a momentos de puro regozijo.
Seria como a versão final deste rascunho que vamos escrevendo dia após dia, na
tentativa de que em algum momento acertemos finalmente.
Mas se este plano é apenas o rascunho, então ele nunca
será bom, nunca será completo e nem com linhas certas. Ele possui borrões,
rabiscos, rasuras, frases sem sentido algum e totalmente desconexas daquilo que
pretendíamos escrever. Começam a surgir incertezas do que escrever e de como
continuar, mas ainda assim continuamos o texto, mesmo sabendo que aquele velho
papel roto será jogado fora depois de passado a limpo.
Mas, mais uma vez, se este é somente um rascunho, qual
então a intenção ou ao menos de que vale de fato deter todas as informações das
quais somos detentores? Qual a intenção de formar tais alianças, se no fim de
todo o rabisco quem vai definir o final, o que você não verá, será somente
você? Sozinhos, da mesma forma como o iniciamos. Um final que você não verá e
nem sentirá, pois este é apenas o esboço, e quem tem o direito de senti-lo de
forma perfeita é seu outro “Eu”, que se aproveita de todas as correções em um
plano paralelo e melhorado.
Esperar que o tempo corrija aquilo que está imperfeito
não é e nem nunca foi a decisão mais certa a se seguir, mas é a mais praticada
por aqueles que se cansam de reescrever e reescrever as palavras de suas vidas.
E assim, então, seguimos sem que nada seja definido, sem que nada possua uma
resposta. Apenas palavras de remediação que ouvimos para que possamos
continuar. Mas e se não quisermos mais continuar com as escrituras? Então o que
fazer com as palavras ouvidas e escritas, e também com todo o tempo gasto na
produção de tudo isto?
Apenas deixar que o tempo encarregue-se de terminar por
nós. Não com o melhor final, mas com o final que acomodados esperamos chegar,
somente para poder verificar se pelo menos no mundo paralelo os acertos valeram
os erros cometidos nesta tentativa humana desesperada de acertar. Se
acertaremos? Não sei. Talvez um dia possamos sair de nosso outro mundo para
dizer. Por enquanto, deixemos que as canetas percorram as linhas e nos digam
qual caminho seguir. E acomodados esperamos pela melhor resposta...